domingo, 20 de julho de 2014

Dunga e o espírito Policarpo Quaresma da CBF

Parecia piada de mau gosto, mas, virou verdade: Dunga será o novo técnico da Seleção Brasileira. Não bastou apanhar de 7 x 1 contra a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo disputada na própria casa para haver o mínimo de aprendizado. A turma da CBF liderada por José Maria Marin e Marco Polo Del Nero brinca de gerir a paixão de milhões de pessoas e escolhe o nome mais improvável de todos os disponíveis no mercado para substituir Felipão.

Na verdade, nem tão improvável assim.

Apreciador de frases de efeito com cunhos patrióticos, Marin resiste a enxergar o atraso tático e técnico do futebol brasileiro. Tudo se resume a questões de raça, garra, vontade, amor à camisa e disciplina. Abobrinhas como respeito à Amarelinha, aqui é Brasil e somos cinco vezes campeões do mundo são suficientes para vencer qualquer competição. Frases como "não temos nada a aprender com ninguém de fora" reforçam rótulos prejudiciais para a evolução do futebol no país.

Escolhido para comandar as divisões de base da CBF, Alexandre Gallo já baixou cartilhas proibindo brincos, cordões e cabelos mais exóticos. Para o novo diretor de seleções, o ex-goleiro e agora ex-empresário de jogador Gilmar Rinaldi, o erro da Seleção contra a Alemanha começou no boné dos atletas com #forçaNeymar.

Quem melhor do que Dunga com jeitão de Policarpo Quaresma boleiro para vestir esse discurso nacionalista e militaresco implantado pelos seus futuros parceiros de trabalho? Discursos raivosos contra inimigos imaginários, futebol sendo tratado como guerra, concentração isolada do mundo, fidelidade absoluta com seu grupo de atletas (Grafite, Doni e Josué que o digam) serão ingredientes requentados trazidos pelo novo comandante da Seleção

Verdade seja dita: Dunga não chegou a ser um desastre como técnico do time nacional. O time da Copa 2010 era bem arrumado, com boas jogadas de contra-ataque e bolas paradas. A teimosia em ir até o fim com jogadores limitados, porém, deixou a equipe sem alternativas de qualidade para substituir os titulares. Fora isso tivemos que encarar partidas partidas sofríveis contra Coréia do Norte, Portugal e, claro, o desastroso segundo tempo do fatídico jogo da Holanda.

Pouco para quem precisa encontrar um novo estilo de jogo após o completo desgaste da fórmula utilizada há duas décadas pela Seleção Brasileira. Oportunidades de trazer gente de fora (Bielsa, Sampaoli, Guardiola, Mourinho) são rechaçadas e os melhores técnicos do futebol brasileiro nos últimos anos (Tite, Marcelo Oliveira, Cuca) nem cogitados são pela turma da CBF.

Se nem mesmo a humilhação contra a Alemanha serve para a corja responsável por comandar a cúpula do futebol nacional da necessidade de se repensar o futebol no Brasil como todo, o que mais será preciso? Não se classificar para a Copa de 2018?

domingo, 13 de julho de 2014

Copa do Mundo 2014: Sobre o Possível e o Impossível

A última vez que estive em Manaus foi no início do mês de fevereiro de 2014. No caminho para o Aeroporto Eduardo Gomes, passei em frente às obras da Arena da Amazônia. Apesar da beleza externa, a sensação de inquietude era inevitável pelo temor do estádio não ficar pronto e como a capital amazonense poderia receber tantos turistas e jornalistas com as mínimas obras de infraestrutura feitas para o evento.

Mesmo de longe, pude observar o sucesso da Copa do Mundo em Manaus. Imagino que não tenha sido perfeito, porém, a cidade conseguiu passar uma boa impressão ao resto do país inteiro: o estádio se mostrou um dos mais belos da competição, não houve problemas graves nas questões de telecomunicações e transporte público, o setor turístico (veja só, ele existe Manaus!) conseguiu se destacar, o Centro/Largo de São Sebastião foi redescoberto e deixou de ser propriedade privada e, acima de tudo, a carência afetiva dos meus conterrâneos foi amansada por tantas matérias e reportagens positivas (valeu até fake de atriz global).

O impossível se tornou possível: Manaus fez uma grande Copa do Mundo.

Se a realidade se mostrou mais do que bem-sucedida quando se imaginava o pior, por que não acreditar na queda de Dissica Thomaz Valério, dono da Federação Amazonense de Futebol desde os anos 80? Por que não chamar gente séria e dedicada ao esporte como Aderbal Lana e Antonio Piola para recomeçar o futebol local? Por que não acreditar na renovação urgente dos dirigentes dos clubes locais (em especial, o Nacional e São Raimundo)? Por que não acreditar no fortalecimento das categorias de base dos times amazonenses, alvos de denúncias de abuso sexual infanto-juvenil até agora sem resultado alguma por parte das autoridades? Por que não exigir dos governantes uma cobrança mais séria dos gestores de clubes quanto à verba destinada todos os anos sem resultado algum dentro e fora de campo? Por que não ver na cadeia ou condenados na justiça a prestar serviços comunitários vândalos disfarçados de torcedores causadores de inúmeras brigas nos estádios durante o Campeonato Amazonense? Por que não ter o Peladão como possível revelador de novos jovens craques para os times locais? Por que não acabar de vez com discussões tolas sobre amariocas, amapaulistas, show da Beyoncé ou do Paul McCartney para viabilizar a Arena da Amazônia e se ater no fundalmental? POR QUE NÃO TRABALHAR PARA O FUTEBOL AMAZONENSE DEIXAR DE SER AMADOR E OFERECER UM BOM PRODUTO AO TORCEDOR?

Impossível possível?
Ou possível impossível?

terça-feira, 8 de julho de 2014

Copa do Mundo 2014: A Oportunidade de Ouro do Futebol Brasileiro

Menos de 30 minutos serviram para a Alemanha derrubar o futebol brasileiro.
Não apenas a Seleção de Felipão: Muller, Klose, Kroos decretaram o fim da mediocridade do que se chama futebol de resultado. 

O Barcelona de Guardiola já havia dado os primeiros sinais na épica vitória contra o Santos do desgaste dessa fórmula de contra-ataques, ligações diretas, bolas paradas, três volantes, muitas faltas, jogos travados. Mazembe e Raja Casablanca deram mais indícios assim como o desastre da atual edição da Libertadores da América. Lembrar que o Campeonato Brasileiro reinicia na próxima semana traz pesadelos nos fãs de futebol após tantas jogos emocionantes vistos na Copa 2014.

Gente do estilo de Iniesta, Pirlo, Kroos, Xavi somem dos nossos gramados e a capacidade de pensar dá lugar à correria, típica da vista do time de Felipão neste Mundial de 2014. Sobram para poucos volantes alguma criatividade, enquanto o meio-campo empobrece. Rivaldo e Kaká foram os últimos grandes do setor. Pouco para um país outrora brilhante como o Brasil.

Se Paolo Rossi provocou uma crise que culminou no fim do futebol-arte no Brasil, a Alemanha de Joachim Low pode ressuscitar aquilo que nos consagrou. Que se devolvam os dribles, as tabelas, o acerto nos passes, os chutes de fora da área, os gols e, acima de tudo, os risos.

Sem bodes expiatórios ou vilões (Fred, Zúñiga, Felipão, Oscar e qualquer um que seja apontado como responsável pelo Mineirazo), essa é a oportunidade de ouro para um recomeço da criatividade e do talento voltar aos nossos gramados.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Copa do Mundo 2014: A Receita do Hexa está aí

O caminho para o hexa está desenhado nesta classificação contra a Colômbia: marcação com pressão, alta velocidade, a dupla de zaga salvadora e bolas paradas. Acrescente Neymar na lista e Thiago Silva possui grandes chances de levantar a taça no Maracanã no dia 13 de julho.

Felipão mostra ser limitado como treinador mais uma vez: a estratégia utilizada nestas quartas-de-final traz muito do melhor jogo desta Seleção, a final da Copa das Confederações contra a Espanha. Esse é o máximo que o time pode alcançar, pois, a característica dos jogadores convocados não permite uma outra estratégia a não ser a velocidade mesmo quando o jogo pede toque de bola. 

O segundo tempo contra a equipe do ótimo James Rodriguez exemplifica isso: pra quê dar chutão ou sair correndo em direção ao gol quando o adversário está no controle ou resultado está 2 x 0? Apesar da ótima campanha e contar com gente talentosa como Yepes e Cuadrado, a Colômbia mostrou ser limitada e sentiu a pressão de enfrentar uma equipe com tanto peso como a brasileira.

Melhoras como a entrada de Maicon e um Oscar mais participativo pelo meio-de-campo ajudaram a equipe a desenvolver um futebol acima dos péssimos jogos anteriores. Fernandinho também esteve bem e anulou o craque colombiano. Claro que os donos da partida foram David Luiz e Thiago Silva: precisos na zaga e decisivos no ataque. Porém, Hulk continua sendo apenas força física, enquanto Fred manteve a média das partidas anteriores. Muito marcado, Neymar não conseguiu ser o diferencial e ainda se tornou dúvida para a semifinal contra a Alemanha.

O Brasil pode sim ser campeão. Será na base da marcação apertada, bolas paradas, a segurança da zaga e do desempenho individual do craque. Não sei você, mas, pela nossa história e estilo de jogo, considero ser pouco não termos a capacidade de criar um time para tocar a bola, criar tabelas, dominar um jogo com mais inteligência.

Só que temos de ser hexa de qualquer jeito, certo?
Ok. A receita está aí.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Copa do Mundo 2014: Pelo Prazer de Ver o Brasil Jogar

Aflição.

Eis bem uma palavra para definir os jogos do Brasil na Copa de 2014.

A partida contra a Colômbia precisa ser o reencontro do prazer. Prazer em ver a Seleção jogar com troca de passes, tabelas, infiltrações, dribles, jogadas geniais. Prazer pelo fim dos chutões e ligações diretas. Prazer de enxergar um Júlio César menos culpado pelos erros da Copa de 2010. Prazer de observar Thiago Silva mais equilibrado emocionalmente. Prazer de ter o velho Paulinho do Corinthians recuperado da má fase. Prazer de testemunhar um Oscar mais participativo e Hulk louco para se redimir das falhas contra o Chile. Prazer de Fred fazer as pazes com o gol. Prazer, acima de tudo, dos atletas em se divertirem dentro de campo.

Chega do hino à capela com raiva, choro, nervosismo, tensão, entrevistas dramáticas pós-jogo.
Por que não trocar tudo isso pelo riso do bom drible ou de um lance mágico?

Que nossos jogadores entrem sérios e dedicados à vitória, mas capazes de desfrutar esse momento único de jogar a Copa do Mundo dentro do Brasil. Evitem pensar se tratar de uma guerra ou batalha a ser vencida: futebol é esporte e jogar bem ainda é a melhor receita para se vencer.

Em caso de derrota, sim, será um fracasso.
Sim, será justo elencar as possíveis falhas e quem não rendeu como esperado.
Sim, será necessário observar o que acontece no futebol brasileiro e a pobreza tática de nossos técnicos.

Mas, como torcedores, precisamos saber perder e não buscar novos vilões nacionais. Gente talentosa como Barbosa, Toninho Cerezo e Felipe Melo sabe o injusto peso cometido por erros graves em Copas e a incapacidade do brasileiro em seguir adiante, associando esses nomes a galeria de fracassados do futebol. Esse avanço de pensamento alivia quem está em campo a errar por tentar a bola mais ousada ou buscar o drible improvável ou dar o chute de fora da área. Que os chilenos e argelinos nos inspirem se perdermos.

Em uma Copa do Mundo emocionante e com vários jogaços, falta apenas o torcedor sentir prazer em ver o Brasil jogar. Isso somente acontecerá se Neymar&Cia estiverem também dispostos a se divertir.

sábado, 28 de junho de 2014

Copa do Mundo 2014: Kaká cadê você?

Duas bolas na trave não causaram mais um trauma histórico para o futebol brasileiro.
Júlio César apagou as tristes lembranças do jogo contra a Holanda na Copa de 2010.
A classificação contra o Chile permite uma embriaguez de felicidade, o êxtase da vitória épica.

O sentimento seria completo se hoje fosse 13 de julho, o Mineirão fosse o Maracanã e Thiago Silva levantasse a taça de campeão do mundo, seja lá quem for entregá-la.

Não é.
Faltam três jogos.
Três jogos!
Meu Deus! Três jogos!

Seremos dependentes, acima de tudo, do agora incontestável Júlio César, da melhor dupla de zaga do mundo Thiago Silva e David Luiz, da segurança de Luiz Gustavo e da genialidade de Neymar. Esse é o time do Brasil e nada mais. Isso se reflete em campo: ligações diretas, bolas aéreas e dribles do craque do Barcelona para resolver quando o negócio aperta.

Exceto o volante cão de guarda Luiz Gustavo, percebe-se a ausência do meio de campo. O triste fato se confirma a cada jogo: não temos jogadores nesse setor fundamental, em especial na área de criação. Oscar não é esse cara, se omite quando mais se precisa dele, necessita ser coadjuvante e não estrela. Esqueça técnica: Hulk é força, explosão física e vontade. Só. No banco de reservas, Bernard e William são atletas de velocidade e não de pensar uma jogada. O vazio na parte central do campo aumenta a cada confronto.

Algo une todos esses jogadores: a inexperiência de uma Copa do Mundo. Se o meio de campo não chama o jogo, faz o famoso "para e pensa", a troca de passes fica rara, resta o jogo de chutão feito pelo time. O reflexo fica em um time sem confiança e nervoso pela constante sensação de que não está no controle da partida. A situação se potencializa ainda mais pela pressão de disputar o Mundial em casa.

Mesmo longe da fase de ouro, Kaká poderia ser o cara para ressuscitar a posse de bola no meio-campo brasileiro, caso estivesse no elenco. Com a experiência de duas Copas do Mundo no currículo, o futuro reforço do São Paulo seria uma alternativa para Felipão em segurar um pouco mais o jogo e trocar passes, ou seja, fazer existir esse setor. Seria o medalhão mais apto a fazer isso entre os atletas em atividade no Brasil - Ronaldinho Gaúcho, infelizmente, nunca se mostrou responsável para esse tipo de situação, e Alex está em fim de carreira. Se não fosse tão inconstante, Paulo Henrique Ganso cairia como a peça ideal para a atual Seleção Brasileira.

A força da camisa e jogar em casa permitem à Seleção Brasileira manter as boas chances de conquistar o hexacampeonato, mas, Felipão terá dificuldades para fazer jogar o meio-campo brasileiro com os jogadores que tem à disposição. Faltam opções experientes e com capacidade de racionar as necessidades do time.

Se antes brilhavam Didi, Rivelino e Rivaldo, o atual setor lembra aquele pouco inspirado da Copa de 1994 com Dunga, Mauro Silva, Mazinho e Zinho. Resta torcer para que Neymar repita Romário.

POSSE DE BOLA
Fim do Primeiro Tempo:Brasil 43% x 57% Chile
Fim do Jogo: Brasil 49% x 51% Chile

NÚMERO DE PASSES
Brasil: 393
Chile: 424

Foto: Reuters
Dados: Site da Fifa

PS: as vaias de parte dos torcedores brasileiros no momento em que os chilenos cantavam o hino à capela pode até ser desrespeitoso, mas, precisa ser analisada dentro do contexto da partida. Não se viu isso em outros jogos Brasil afora, inclusive das partidas da equipe do técnico Sampaoli. A situação no Mineirão era diferente, afinal de contas, o hino à capela se tornou símbolo do time brasileiro. Portanto, a vaia não era para a canção do Chile e sim um marco da torcida brasileira sobre quem gritaria mais no Mineirão. Ocorreria o mesmo se a representação desse momento fosse na França, Inglaterra, EUA, África do Sul, Argentina. Não é uma atitude bonita, óbvio. Mas, repito: precisa ser analisada dentro do contexto da partida. Bem diferente do que houve, por exemplo, nos xingamentos à Dilma Rousseff na abertura do Mundial na Arena Corinthians.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Copa do Mundo 2014: Fernandinho salva Neymar

O primeiro tempo contra Camarões deixou a sensação de que Neymar teria de ser para a seleção brasileira o que foram Garrincha de 1962, Maradona de 1986 e Romário de 1994 para seus respectivos times: o homem da decisão capaz de encontrar soluções para as partidas mais difíceis. Para conseguir o hexacampeonato da Copa do Mundo, restava a Felipão&Cia apostar no craque surgido na Vila Belmiro.

A entrada de Fernandinho, entretanto, alterou o cenário. Tudo porque a opção pelo volante do Manchester City no lugar de Paulinho abre a possibilidade de Felipão mudar os titulares, não sendo mais possível seguir com quem lhe deu o título da Copa das Confederações. Sim, há chances de termos um time.

O Brasil começou mal o terceiro jogo na Copa de 2014: ligações diretas da zaga para o ataque eram as jogadas mais comuns pela ausência de Oscar e Paulinho. O ex-volante do Corinthians, aliás, se omitia o tempo todo, pegando na bola somente para dar passes a Thiago Silva e David Luiz. Como Camarões é um time limitado até para o Brasileirão, restava ao comandados de Felipão pressionar o adversário. O famoso "aperta que entrega" deu certo e Neymar achou o gol duas vezes e permitiu à Seleção abrir vantagem antes do intervalo. A avaliação geral, exceto pelo artilheiro do time, era ruim e a impressão que somente o craque do Barcelona poderia salvar o hexa aumentava ainda mais.

Eis que Felipão se rende ao óbvio e tira Paulinho. De repente, a velocidade reaparece e aquele time que goleou a Espanha por 3 x 0 retorna. Fernandinho traz o futebol veloz e consciente, chamando o jogo para frente. Fred, Hulk, Marcelo crescem e uma Seleção mais convincente surge.

Ainda é pouco e Deus sabe o que pode acontecer sem Neymar. Porém, Felipão sabe que precisa mexer no time. Não pode haver intocáveis ou solidariedade a quem está em má fase. Copa do Mundo, infelizmente, não permite isso. Paulinho precisa sair do time, assim como Daniel Alves. Fernandinho ou Hernandes e Maicon são as soluções para criar uma equipe sólida e capaz de encarar a segunda fase do Mundial.

Se Felipão quiser optar pela teimosia, Neymar terá que ser Maradona e Garrincha.
 
Foto: Bernat Armangue/AP

domingo, 22 de junho de 2014

Copa do Mundo 2014: Espanha e o desafio do adeus

Como dispensar aquela pessoa que foi tão importante para a sua vida ou trabalho?
Qual a melhor forma de dizer adeus sem machucar ou ferir sentimentos?

O mundo será mais fácil no dia em que for criada essa fórmula.

A Espanha sofreu na Copa do Mundo de 2014 esse mal enfrentado por tantos outros times vencedores. O futebol brasileiro, por exemplo, trouxe casos recentes. 

Campeão da Libertadores e Mundial, o Corinthians segurou importantes jogadores dessas conquistas como Emerson Sheik, Chicão e Danilo, todos rendendo abaixo do esperado. Acabou naufragando nas competições seguintes. Já o Atlético-MG venceu de forma heroica o título continental e naufragou no Mundial contra o Raja Casablanca. Na Libertadores deste ano, o Galo acabou eliminado nas oitavas de final para o xará da Colômbia. Nomes como Marcos Rocha e Ronaldinho Gaúcho continuam prestigiados ainda que longe da qualidade mostrada anteriormente.

A própria Seleção Brasileira já enfrentou isso três vezes em Copas do Mundo. Em 1966, Vicente Feola convocou medalhões em final de carreira como Garrincha (decisivo em 62) e Bellini (o capitão de 58). Resultado: queda na primeira fase. No Mundial de 1986, Telê Santana prestigiou nomes importantes do time de 82, o que fez convocar Zico baleado e Falcão em má fase no São Paulo. Eliminação nas quartas-de-final para a França de Platini. A última vez aconteceu com Parreira na Copa de 2006 ao não barrar Ronaldo Fenômeno, craque do penta completamente fora de forma.

Vicente Del Bosque enfrentou o mesmo problema dessa vez. Ídolo do Real Madrid e capitão do primeiro título mundial espanhol, Casillas está em má fase desde que José Mourinho o colocou no banco de reservas do time merengue. Na final da última Champions League, o goleiro já havia falhado feio no gol do Atlético de Madrid e hesitado em outros lances. Apesar de graves e fora do comum, os erros na Copa não chegaram a ser novidade. Outro erro foi manter Piqué no time. O marido de Shakira caiu de nível como todo o time do Barcelona na temporada 2013-2014. Deixar o ótimo Javi Martínez no banco de reservas para privilegiar o titular do Mundial passado se mostrou outro equívoco do treinador.

O erro maior de Del Bosque acabou sendo em Xavi. Volante que redefiniu o futebol moderno, o craque do Barcelona não era mais o mesmo. O tempo castigou a força física dele, algo essencial para posição em um jogo tão corrido como o atual. Se estivéssemos 30, 40 anos atrás, ele poderia atuar facilmente no mesmo nível. Infelizmente, hoje em dia com a velocidade das partidas, não é mais possível. 

Xavi se tornou presa fácil para os adversários, suas jogadas eram facilmente marcadas e não tinha mais fôlego para aguentar em alto nível 90 minutos. O técnico espanhol sabia bem disso, mas como tirar o maestro de campo? E o que fazer com a esperança da jogada decisiva? E o lampejo de um craque não pode vir a qualquer momento? Del Bosque se agarrou a isso, não colocou o habilidoso Koke e a Espanha caiu.

A geração de Xavi, Casillas, Iniesta, Piqué, Sergio Ramos, David Villa, Xabi Alonso, Puyol, Del Bosque e tantos outros merecem a adoração dos fãs de futebol. Se vemos uma Copa do Mundo com tantos gols e jogos emocionantes, deve-se muito a estes caras, pois, mostraram que o futebol de troca de passes e ofensivo pode ser uma alternativa bem melhor que os contra-ataques e bolas paradas.

Que venha a geração de Thiago Alcântara, Pedro, Cazorla, Koke, De Gea...

Copa do Mundo 2014: Messi e Maradona - A Necessidade de Mudança da Mentalidade da Argentina


Reprisar os jogos mais importantes da Copa do Mundo antigas são uma das principais atrações dos canais esportivos antes de qualquer mundial. A Fox Sports escolheu a final de 1986 entre Argentina e Alemanha. Minha grande expectativa era conferir uma partida inteira do que foi Maradona naquele torneio. Já sabia, porém, que aquela decisão não havia sido o grande jogo do craque do Napoli: a forte marcação dos europeus e as faltas sofridas dificultavam a capacidade de carregar a bola e driblar os adversários.

Mesmo assim, Maradona tinha seus lapsos de genialidade e dava arrancadas espetaculares, sendo parado na base da pancada. As corridas do craque traziam muito mais que apenas um estilo de jogo; havia raiva, fome de gol, impulsividade, deixar os zagueiros desmoralizados no chão. Don Diego era a personificação do argentino dentro de campo: raçudo, passional, dramático, intenso e individualista.

Não à toa que a Argentina parece estranhar Lionel Messi. A esperança dos hermanos para o título da Copa de 2014 pode trazer características de Maradona (em especial, a velocidade da arrancada), porém, há uma eterna sensação de que o craque do Barcelona age muito mais com inteligência do que intensidade. 

Messi é calculista, frio, introvertido, cerebral. Pode até tirar algo da cartola como aconteceu nos gols contra a Bósnia e Irã, porém, são momentos nascidos mais com a capacidade de observar o que ocorre em campo do que simplesmente pelo impulso. Necessita, acima de tudo, de um time capaz de criar tabelas, dribles e jogadas em profundidade..

Se Maradona conseguia criar quase tudo sozinho, Messi pode até ser a estrela, porém, precisa do coletivo. Alejandro Sabella ainda não conseguiu definir um estilo para a Argentina, o que faz nomes como Gago, Higuaín e Aguero ficarem perdidos dentro de campo. Sem essa unidade, jogos tranquilos acabam se tornam mais difíceis, dependendo da genialidade do camisa 10 para resolver.

Caso queira o tricampeonato, a Argentina precisa se adaptar ao craque atual. Isso significa mudar a mentalidade do individual para o coletivo. Ou então há sempre o período Pré-Copa para assistir a final de 1986.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Toda Poderosa Gaviões

Ao sair vitorioso do Mundial de Clubes em 2012, o Corinthians parecia diante do inevitável: dominar o futebol brasileiro nos próximos anos. A valorização da marca com um time vencedor serviria para atrair mais dinheiro e grandes craques. A sensação era que até mesmo o Brasil ficaria pequeno para a grandeza que o time paulista poderia atingir.

Infelizmente, o segundo clube com maior torcida do país se tornou refém da principal torcida organizada dela própria, a Gaviões da Fiel. A maior demonstração disso acontece com a reformulação do elenco nestas últimas semanas. Paulo André e Alexandre Pato já caíram fora e Emerson Sheik também não deve durar muito.

Ok, eram atletas que não vinham rendendo o esperado e as mudanças no Corinthians eram necessárias devido a apatia do time desde o Brasileirão. Porém, você acha que isso aconteceria da maneira tão rápida caso integrantes da Gaviões da Fiel não tivessem invadido o Centro de Treinamento do Corinthians? Correndo justo atrás desses três jogadores citados acima? Nessa batalha, a Gaviões da Fiel venceu.

O cartel de conquistas da torcida organizada corintiana nos últimos anos está digno da fase campeã de Anderson Silva. 100 invadem o CT, porém, somente três são presos. Na Bolívia, integrantes da Gaviões matam um adolescente. Mesmo assim, todos são liberados. O mesmo bando participa de uma briga generalizada contra vândalos disfarçados de vascaíno. Novamente, nada acontece.

As figuras são conhecidas, porém, nem a diretoria do Corinthians ou a polícia ou até os próprios integrantes pacíficos da Gaviões parecem interessados em barrá-los do estádio ou da vida do clube. Pelo contrário: ingressos não faltam para essa turma.

Mais do que erros da diretoria na contratação de jogadores ou decisões equivocadas de Mano Menezes e Tite ou apatia dos atletas. As turbulências criadas pela Gaviões da Fiel colocaram o Corinthians em um patamar bem abaixo daquele campeão mundial de 2012. A imagem do clube está arranhada por gente incapaz de entender o que é o futebol, afastando os reais torcedores dos estádios, assustando jogadores e deixando um clima de tensão a cada mísera partida disputada.

O grito que vem das arquibancadas do Pacaembu e ao redor do Brasil brada: "Todo Poderoso Timão". Perdão aos corintianos, mas, na verdade, o grito deveria ser: "Toda Poderosa Gaviões".

PS: se algum torcedor rival enxerga isso como bom, esse sujeito também não entende o futebol.

Foto: Rodrigo Gazzanel / Futura Press

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A beleza da Arena da Amazônia

Vejo vários amigos postando fotos e mais fotos dentro da Arena da Amazônia. Não há como negar que o estádio de Manaus para a Copa do Mundo de 2014 ficou lindo. O gramado verdinho, as cadeiras coloridas em tons de amarelo, vermelho e laranja, o belo telão, a cobertura branca dando um tom elegante e moderno, os camarotes e corredores espaçosos.

Temos um estádio de primeiro mundo. Pode ser comparável ao Emirates Stadium, Stanford Bridge, San Siro, Santiago Bernabéu.

Agora, saia da Arena da Amazônia e olhe ao redor.

Veja o Sambódromo velho, caindo aos pedaços, interditado recentemente pela Justiça do Amazonas por falta de segurança e sem prevenção para incêndio. Logo adiante, chegaremos nos galpões sempre mantidos de forma ilegal com os gatos de energia proliferando. Somente uns 100 metros a frente, veremos as alegorias de 2013 das escolas de samba de Manaus, instituições acostumadas a pegar sua boquinha da verba pública (igual aos clubes de futebol). A Alameda do Samba traz a nossa vergonha ambiental: igarapés sujos e cercado de mato.

Vamos agora para a Constantino Nery. Símbolo de como Manaus sabe tratar as árvores, a avenida que liga a Zona Norte ao centro da cidade possui agora as novas paradas do Expr... digo BRS. Como tudo é planejado, a maioria dos ônibus que circula na pista não estão adaptados para desembarcar os passageiros lá. Ali ao lado da Arena, temos o nosso mini elefante branco chamado Arena Amadeu Texeira, onde temos grandes feiras de carros em vez de competições esportivas. Para deixar tudo ameno, quem passa pela rua ganha um perfume aroma churrasco.

Esse é um retrato de parte de Manaus. Um pequeno pedaço, diga-se de passagem. Não vou entrar no campo da educação ou saúde pública, muito menos segurança ou limpeza pública, nem turismo nem saneamento básico quanto mais o transporte público ou telecomunicações.

A beleza da Arena da Amazônia é capaz de fazer com que muitos moradores de Manaus não desejem sair dela, pois, saberão como pode ser a vida em um local de primeiro mundo. Corram lá para dentro na esperança do estádio se transformar em uma nave espacial para sair voando para o mundo em que aquela construção pertence.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Como falar de futebol?

Talvez seja por somente ter 26 anos.
Ou por ser ingênuo.
Ou por ser idiota mesmo.

Acredito que a revelação feita pelo jornal A Crítica da exploração sexual de crianças e adolescentes nas divisões de base dos clubes profissionais do Amazonas deveria ser um escândalo.

No meu mundo ideal, as autoridades policiais deveriam montar uma força-tarefa para escutar as vítimas e os gestores dos times locais, o governador Omar Aziz e o prefeito de Manaus, Artur Neto, iriam às redes de televisão para informar o bloqueio de qualquer repasse público aos clubes até a solução dos caso, dirigentes pediriam afastamento dos cargos e as redes sociais estariam cheias de mensagens contra esse bando de amadores que afundam o futebol do Amazonas. Até mesmo protestos seriam organizados.

Porém, o que houve de fato?
Nada. A vida seguiu: o prefeito e o governador seguem em campanha política antecipada (ops!), dirigentes despreocupados e as redes sociais dos nossos amazonenses reclamando dos Sarneys no Maranhão (ah Ipat!) ou ainda xingando o técnico da Suíça.

São tantos os casos de pedofilia no Amazonas que este chega a ser visto como banal. Mesmo se tiver flagrantes como o obtido pela reportagem especial do A Crítica ou na Operação Estocolmo (lembra?), não acontece nada. O silêncio da sociedade local quanto ao assunto serve para ilustrar o tamanho da gravidade do problema e o espelho da justiça real praticada no estado.

Talvez seja por somente ter 26 anos.
Ou por ser ingênuo.
Ou por ser idiota mesmo para escrever este texto com a esperança de ajudar em alguma coisa.



PS: parabéns Leanderson Lima, Lorenna Serrão e Paulo Ricardo Oliveira pela reportagem especial.
PS 2: parabéns para Antônio Piola. Quem dera fosse ele no comando da FAF...

FOTO: WINNEUTOU ALMEIDA - ACRÍTICA

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Arena da Amazônia: conversa para depois

NFL, Elton John, Paul McCartney, UFC, Glorioso, nova Cadeia Pública, Real Madrid, Barcelona, Flamengo...

Para cada alternativa pensada como forma de viabilizar a Arena da Amazônia, imagino a cara de felicidade da turma da Federação Amazonense de Futebol e dos dirigentes dos clubes locais. Quanto mais a conversa avança nesse sentido, a discussão necessária sobre o esporte local some da pauta.

Culpar a mídia do Sul/Sudeste do Brasil ou apontar uma tentativa de aproveitamento político sobre a possibilidade da Arena da Amazônia se tornar um elefante branco são as novas modas para evitar o debate. Vamos postegar o trabalho de profissionalizar os clubes do Amazonas, investir nas categorias de base, aproveitar a grandeza do Peladão de alguma maneira para revelar talentos, tirar os velhos dirigentes do poder e exigir metas para os times alcançarem as divisões superiores do Brasileirão.

A torcida agora é a expectativa para ver Gerrard, Lampard, Buffon, Balotelli, Cristiano Ronaldo na Arena da Amazônia e ficar com raiva das declarações do técnico inglês ou da turma maldosa da ESPN Brasil. Enquanto isso, nossos dirigentes se preparam para dar um novo bote: pedir verbas do Governo do Amazonas e da Prefeitura de Manaus para viabilizar o campeonato estadual.

Manaus se tornou subsede da Copa do Mundo de 2014 em 2009.
Chegamos em 2014 não querendo discutir uma conversa de 2009.

Ok.
Vou torcer para o Red Hot Chilli Peppers ou o Pearl Jam vir para Manaus.
E você? Quer quem?

domingo, 5 de janeiro de 2014

Copa SP de Futebol Júnior: abismo do Amazonas

O Remo estreou na Copa São Paulo de Futebol Júnior empatando contra o Corinthians por 1 a 1. Isso porque o time paulista conseguiu fazer o gol de igualdade aos 42 minutos do segundo tempo. Representante do Amazonas, o Holanda começou o torneio com derrota: 3 a 0 para o Nacional-SP.

Enquanto o time do Pará volta a fazer história no futebol juvenil (Remo chegou às quartas de final da Copa do Brasil sub-20 em 2012), o Amazonas continua patinando. A derrota do Holanda retrata bem o abismo do nível das divisões de base do estado em relação ao resto do Brasil.

Então, pergunto:
1) por que nossas divisões de base estão tão longe do nível nacional?
2) o investimento está aquém do que deveria? Ou não é feito corretamente?
3) quais lições os clubes, comissões técnicas e jogadores amazonenses tiram das diversas participações malsucedidas na Copa São Paulo de Futebol Júnior? Há aplicação disso no cotidiano do clube?
4) a FAF e os dirigentes discutem soluções para esses problemas?
5) por que os clubes do Amazonas não conseguem formar bons jogadores para os seus próprios times?
6) nossos atletas das divisões de base estão com o preparo físico e técnico ideal para uma competição nacional?

Longe das discussões necessárias para a evolução do futebol no estado, os clubes do Amazonas fazem o tradicional: a importação de inúmeros jogadores de outros estados, principalmente, de Minas Gerais e Goiás. Afinal de contas, você sabe quem tá pagando mesmo.

Boa sorte aos meninos do Holanda no restante da Copa SP. Façam o melhor e não se culpem por nada. Minha maior torcida é para vocês não serem esquecidos no aeroporto.

PARTICIPAÇÕES DO AMAZONAS NAS 5 ÚLTIMAS EDIÇÕES DA COPA SP DE FUTEBOL JÚNIOR:

2013 - NACIONAL - Eliminado na Primeira Fase
Grêmio Osasco 4 X 1 Nacional
Internacional 2 X 1 Nacional
Paulista 1 X 3 Nacional

2012 - NACIONAL - Eliminado na Primeira Fase
Figueirense 1 X 0 Nacional
Flamengo-SP 2 X 3 Nacional
Nacional 1 X 2 Ponte Preta

2011 - NACIONAL - Eliminado na Primeira Fase
Taubaté 1 X 3 Nacional
Fluminense 4 X 0 Nacional
Sertãozinho 2 X 0 Nacional

2010 - NACIONAL - Eliminado na Primeira Fase
São José-SP 1 X 0 Nacional
Grêmio 1 X 2 Nacional
Confiança-SE 2 X 1 Nacional

2009 - NACIONAL - Eliminado na Primeira Fase
Taubaté 2 X 0 Nacional
Grêmio 5 X 0 Nacional
Portuguesa 2 X 0 Nacional