domingo, 20 de julho de 2014

Dunga e o espírito Policarpo Quaresma da CBF

Parecia piada de mau gosto, mas, virou verdade: Dunga será o novo técnico da Seleção Brasileira. Não bastou apanhar de 7 x 1 contra a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo disputada na própria casa para haver o mínimo de aprendizado. A turma da CBF liderada por José Maria Marin e Marco Polo Del Nero brinca de gerir a paixão de milhões de pessoas e escolhe o nome mais improvável de todos os disponíveis no mercado para substituir Felipão.

Na verdade, nem tão improvável assim.

Apreciador de frases de efeito com cunhos patrióticos, Marin resiste a enxergar o atraso tático e técnico do futebol brasileiro. Tudo se resume a questões de raça, garra, vontade, amor à camisa e disciplina. Abobrinhas como respeito à Amarelinha, aqui é Brasil e somos cinco vezes campeões do mundo são suficientes para vencer qualquer competição. Frases como "não temos nada a aprender com ninguém de fora" reforçam rótulos prejudiciais para a evolução do futebol no país.

Escolhido para comandar as divisões de base da CBF, Alexandre Gallo já baixou cartilhas proibindo brincos, cordões e cabelos mais exóticos. Para o novo diretor de seleções, o ex-goleiro e agora ex-empresário de jogador Gilmar Rinaldi, o erro da Seleção contra a Alemanha começou no boné dos atletas com #forçaNeymar.

Quem melhor do que Dunga com jeitão de Policarpo Quaresma boleiro para vestir esse discurso nacionalista e militaresco implantado pelos seus futuros parceiros de trabalho? Discursos raivosos contra inimigos imaginários, futebol sendo tratado como guerra, concentração isolada do mundo, fidelidade absoluta com seu grupo de atletas (Grafite, Doni e Josué que o digam) serão ingredientes requentados trazidos pelo novo comandante da Seleção

Verdade seja dita: Dunga não chegou a ser um desastre como técnico do time nacional. O time da Copa 2010 era bem arrumado, com boas jogadas de contra-ataque e bolas paradas. A teimosia em ir até o fim com jogadores limitados, porém, deixou a equipe sem alternativas de qualidade para substituir os titulares. Fora isso tivemos que encarar partidas partidas sofríveis contra Coréia do Norte, Portugal e, claro, o desastroso segundo tempo do fatídico jogo da Holanda.

Pouco para quem precisa encontrar um novo estilo de jogo após o completo desgaste da fórmula utilizada há duas décadas pela Seleção Brasileira. Oportunidades de trazer gente de fora (Bielsa, Sampaoli, Guardiola, Mourinho) são rechaçadas e os melhores técnicos do futebol brasileiro nos últimos anos (Tite, Marcelo Oliveira, Cuca) nem cogitados são pela turma da CBF.

Se nem mesmo a humilhação contra a Alemanha serve para a corja responsável por comandar a cúpula do futebol nacional da necessidade de se repensar o futebol no Brasil como todo, o que mais será preciso? Não se classificar para a Copa de 2018?

domingo, 13 de julho de 2014

Copa do Mundo 2014: Sobre o Possível e o Impossível

A última vez que estive em Manaus foi no início do mês de fevereiro de 2014. No caminho para o Aeroporto Eduardo Gomes, passei em frente às obras da Arena da Amazônia. Apesar da beleza externa, a sensação de inquietude era inevitável pelo temor do estádio não ficar pronto e como a capital amazonense poderia receber tantos turistas e jornalistas com as mínimas obras de infraestrutura feitas para o evento.

Mesmo de longe, pude observar o sucesso da Copa do Mundo em Manaus. Imagino que não tenha sido perfeito, porém, a cidade conseguiu passar uma boa impressão ao resto do país inteiro: o estádio se mostrou um dos mais belos da competição, não houve problemas graves nas questões de telecomunicações e transporte público, o setor turístico (veja só, ele existe Manaus!) conseguiu se destacar, o Centro/Largo de São Sebastião foi redescoberto e deixou de ser propriedade privada e, acima de tudo, a carência afetiva dos meus conterrâneos foi amansada por tantas matérias e reportagens positivas (valeu até fake de atriz global).

O impossível se tornou possível: Manaus fez uma grande Copa do Mundo.

Se a realidade se mostrou mais do que bem-sucedida quando se imaginava o pior, por que não acreditar na queda de Dissica Thomaz Valério, dono da Federação Amazonense de Futebol desde os anos 80? Por que não chamar gente séria e dedicada ao esporte como Aderbal Lana e Antonio Piola para recomeçar o futebol local? Por que não acreditar na renovação urgente dos dirigentes dos clubes locais (em especial, o Nacional e São Raimundo)? Por que não acreditar no fortalecimento das categorias de base dos times amazonenses, alvos de denúncias de abuso sexual infanto-juvenil até agora sem resultado alguma por parte das autoridades? Por que não exigir dos governantes uma cobrança mais séria dos gestores de clubes quanto à verba destinada todos os anos sem resultado algum dentro e fora de campo? Por que não ver na cadeia ou condenados na justiça a prestar serviços comunitários vândalos disfarçados de torcedores causadores de inúmeras brigas nos estádios durante o Campeonato Amazonense? Por que não ter o Peladão como possível revelador de novos jovens craques para os times locais? Por que não acabar de vez com discussões tolas sobre amariocas, amapaulistas, show da Beyoncé ou do Paul McCartney para viabilizar a Arena da Amazônia e se ater no fundalmental? POR QUE NÃO TRABALHAR PARA O FUTEBOL AMAZONENSE DEIXAR DE SER AMADOR E OFERECER UM BOM PRODUTO AO TORCEDOR?

Impossível possível?
Ou possível impossível?

terça-feira, 8 de julho de 2014

Copa do Mundo 2014: A Oportunidade de Ouro do Futebol Brasileiro

Menos de 30 minutos serviram para a Alemanha derrubar o futebol brasileiro.
Não apenas a Seleção de Felipão: Muller, Klose, Kroos decretaram o fim da mediocridade do que se chama futebol de resultado. 

O Barcelona de Guardiola já havia dado os primeiros sinais na épica vitória contra o Santos do desgaste dessa fórmula de contra-ataques, ligações diretas, bolas paradas, três volantes, muitas faltas, jogos travados. Mazembe e Raja Casablanca deram mais indícios assim como o desastre da atual edição da Libertadores da América. Lembrar que o Campeonato Brasileiro reinicia na próxima semana traz pesadelos nos fãs de futebol após tantas jogos emocionantes vistos na Copa 2014.

Gente do estilo de Iniesta, Pirlo, Kroos, Xavi somem dos nossos gramados e a capacidade de pensar dá lugar à correria, típica da vista do time de Felipão neste Mundial de 2014. Sobram para poucos volantes alguma criatividade, enquanto o meio-campo empobrece. Rivaldo e Kaká foram os últimos grandes do setor. Pouco para um país outrora brilhante como o Brasil.

Se Paolo Rossi provocou uma crise que culminou no fim do futebol-arte no Brasil, a Alemanha de Joachim Low pode ressuscitar aquilo que nos consagrou. Que se devolvam os dribles, as tabelas, o acerto nos passes, os chutes de fora da área, os gols e, acima de tudo, os risos.

Sem bodes expiatórios ou vilões (Fred, Zúñiga, Felipão, Oscar e qualquer um que seja apontado como responsável pelo Mineirazo), essa é a oportunidade de ouro para um recomeço da criatividade e do talento voltar aos nossos gramados.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Copa do Mundo 2014: A Receita do Hexa está aí

O caminho para o hexa está desenhado nesta classificação contra a Colômbia: marcação com pressão, alta velocidade, a dupla de zaga salvadora e bolas paradas. Acrescente Neymar na lista e Thiago Silva possui grandes chances de levantar a taça no Maracanã no dia 13 de julho.

Felipão mostra ser limitado como treinador mais uma vez: a estratégia utilizada nestas quartas-de-final traz muito do melhor jogo desta Seleção, a final da Copa das Confederações contra a Espanha. Esse é o máximo que o time pode alcançar, pois, a característica dos jogadores convocados não permite uma outra estratégia a não ser a velocidade mesmo quando o jogo pede toque de bola. 

O segundo tempo contra a equipe do ótimo James Rodriguez exemplifica isso: pra quê dar chutão ou sair correndo em direção ao gol quando o adversário está no controle ou resultado está 2 x 0? Apesar da ótima campanha e contar com gente talentosa como Yepes e Cuadrado, a Colômbia mostrou ser limitada e sentiu a pressão de enfrentar uma equipe com tanto peso como a brasileira.

Melhoras como a entrada de Maicon e um Oscar mais participativo pelo meio-de-campo ajudaram a equipe a desenvolver um futebol acima dos péssimos jogos anteriores. Fernandinho também esteve bem e anulou o craque colombiano. Claro que os donos da partida foram David Luiz e Thiago Silva: precisos na zaga e decisivos no ataque. Porém, Hulk continua sendo apenas força física, enquanto Fred manteve a média das partidas anteriores. Muito marcado, Neymar não conseguiu ser o diferencial e ainda se tornou dúvida para a semifinal contra a Alemanha.

O Brasil pode sim ser campeão. Será na base da marcação apertada, bolas paradas, a segurança da zaga e do desempenho individual do craque. Não sei você, mas, pela nossa história e estilo de jogo, considero ser pouco não termos a capacidade de criar um time para tocar a bola, criar tabelas, dominar um jogo com mais inteligência.

Só que temos de ser hexa de qualquer jeito, certo?
Ok. A receita está aí.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Copa do Mundo 2014: Pelo Prazer de Ver o Brasil Jogar

Aflição.

Eis bem uma palavra para definir os jogos do Brasil na Copa de 2014.

A partida contra a Colômbia precisa ser o reencontro do prazer. Prazer em ver a Seleção jogar com troca de passes, tabelas, infiltrações, dribles, jogadas geniais. Prazer pelo fim dos chutões e ligações diretas. Prazer de enxergar um Júlio César menos culpado pelos erros da Copa de 2010. Prazer de observar Thiago Silva mais equilibrado emocionalmente. Prazer de ter o velho Paulinho do Corinthians recuperado da má fase. Prazer de testemunhar um Oscar mais participativo e Hulk louco para se redimir das falhas contra o Chile. Prazer de Fred fazer as pazes com o gol. Prazer, acima de tudo, dos atletas em se divertirem dentro de campo.

Chega do hino à capela com raiva, choro, nervosismo, tensão, entrevistas dramáticas pós-jogo.
Por que não trocar tudo isso pelo riso do bom drible ou de um lance mágico?

Que nossos jogadores entrem sérios e dedicados à vitória, mas capazes de desfrutar esse momento único de jogar a Copa do Mundo dentro do Brasil. Evitem pensar se tratar de uma guerra ou batalha a ser vencida: futebol é esporte e jogar bem ainda é a melhor receita para se vencer.

Em caso de derrota, sim, será um fracasso.
Sim, será justo elencar as possíveis falhas e quem não rendeu como esperado.
Sim, será necessário observar o que acontece no futebol brasileiro e a pobreza tática de nossos técnicos.

Mas, como torcedores, precisamos saber perder e não buscar novos vilões nacionais. Gente talentosa como Barbosa, Toninho Cerezo e Felipe Melo sabe o injusto peso cometido por erros graves em Copas e a incapacidade do brasileiro em seguir adiante, associando esses nomes a galeria de fracassados do futebol. Esse avanço de pensamento alivia quem está em campo a errar por tentar a bola mais ousada ou buscar o drible improvável ou dar o chute de fora da área. Que os chilenos e argelinos nos inspirem se perdermos.

Em uma Copa do Mundo emocionante e com vários jogaços, falta apenas o torcedor sentir prazer em ver o Brasil jogar. Isso somente acontecerá se Neymar&Cia estiverem também dispostos a se divertir.

sábado, 28 de junho de 2014

Copa do Mundo 2014: Kaká cadê você?

Duas bolas na trave não causaram mais um trauma histórico para o futebol brasileiro.
Júlio César apagou as tristes lembranças do jogo contra a Holanda na Copa de 2010.
A classificação contra o Chile permite uma embriaguez de felicidade, o êxtase da vitória épica.

O sentimento seria completo se hoje fosse 13 de julho, o Mineirão fosse o Maracanã e Thiago Silva levantasse a taça de campeão do mundo, seja lá quem for entregá-la.

Não é.
Faltam três jogos.
Três jogos!
Meu Deus! Três jogos!

Seremos dependentes, acima de tudo, do agora incontestável Júlio César, da melhor dupla de zaga do mundo Thiago Silva e David Luiz, da segurança de Luiz Gustavo e da genialidade de Neymar. Esse é o time do Brasil e nada mais. Isso se reflete em campo: ligações diretas, bolas aéreas e dribles do craque do Barcelona para resolver quando o negócio aperta.

Exceto o volante cão de guarda Luiz Gustavo, percebe-se a ausência do meio de campo. O triste fato se confirma a cada jogo: não temos jogadores nesse setor fundamental, em especial na área de criação. Oscar não é esse cara, se omite quando mais se precisa dele, necessita ser coadjuvante e não estrela. Esqueça técnica: Hulk é força, explosão física e vontade. Só. No banco de reservas, Bernard e William são atletas de velocidade e não de pensar uma jogada. O vazio na parte central do campo aumenta a cada confronto.

Algo une todos esses jogadores: a inexperiência de uma Copa do Mundo. Se o meio de campo não chama o jogo, faz o famoso "para e pensa", a troca de passes fica rara, resta o jogo de chutão feito pelo time. O reflexo fica em um time sem confiança e nervoso pela constante sensação de que não está no controle da partida. A situação se potencializa ainda mais pela pressão de disputar o Mundial em casa.

Mesmo longe da fase de ouro, Kaká poderia ser o cara para ressuscitar a posse de bola no meio-campo brasileiro, caso estivesse no elenco. Com a experiência de duas Copas do Mundo no currículo, o futuro reforço do São Paulo seria uma alternativa para Felipão em segurar um pouco mais o jogo e trocar passes, ou seja, fazer existir esse setor. Seria o medalhão mais apto a fazer isso entre os atletas em atividade no Brasil - Ronaldinho Gaúcho, infelizmente, nunca se mostrou responsável para esse tipo de situação, e Alex está em fim de carreira. Se não fosse tão inconstante, Paulo Henrique Ganso cairia como a peça ideal para a atual Seleção Brasileira.

A força da camisa e jogar em casa permitem à Seleção Brasileira manter as boas chances de conquistar o hexacampeonato, mas, Felipão terá dificuldades para fazer jogar o meio-campo brasileiro com os jogadores que tem à disposição. Faltam opções experientes e com capacidade de racionar as necessidades do time.

Se antes brilhavam Didi, Rivelino e Rivaldo, o atual setor lembra aquele pouco inspirado da Copa de 1994 com Dunga, Mauro Silva, Mazinho e Zinho. Resta torcer para que Neymar repita Romário.

POSSE DE BOLA
Fim do Primeiro Tempo:Brasil 43% x 57% Chile
Fim do Jogo: Brasil 49% x 51% Chile

NÚMERO DE PASSES
Brasil: 393
Chile: 424

Foto: Reuters
Dados: Site da Fifa

PS: as vaias de parte dos torcedores brasileiros no momento em que os chilenos cantavam o hino à capela pode até ser desrespeitoso, mas, precisa ser analisada dentro do contexto da partida. Não se viu isso em outros jogos Brasil afora, inclusive das partidas da equipe do técnico Sampaoli. A situação no Mineirão era diferente, afinal de contas, o hino à capela se tornou símbolo do time brasileiro. Portanto, a vaia não era para a canção do Chile e sim um marco da torcida brasileira sobre quem gritaria mais no Mineirão. Ocorreria o mesmo se a representação desse momento fosse na França, Inglaterra, EUA, África do Sul, Argentina. Não é uma atitude bonita, óbvio. Mas, repito: precisa ser analisada dentro do contexto da partida. Bem diferente do que houve, por exemplo, nos xingamentos à Dilma Rousseff na abertura do Mundial na Arena Corinthians.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Copa do Mundo 2014: Fernandinho salva Neymar

O primeiro tempo contra Camarões deixou a sensação de que Neymar teria de ser para a seleção brasileira o que foram Garrincha de 1962, Maradona de 1986 e Romário de 1994 para seus respectivos times: o homem da decisão capaz de encontrar soluções para as partidas mais difíceis. Para conseguir o hexacampeonato da Copa do Mundo, restava a Felipão&Cia apostar no craque surgido na Vila Belmiro.

A entrada de Fernandinho, entretanto, alterou o cenário. Tudo porque a opção pelo volante do Manchester City no lugar de Paulinho abre a possibilidade de Felipão mudar os titulares, não sendo mais possível seguir com quem lhe deu o título da Copa das Confederações. Sim, há chances de termos um time.

O Brasil começou mal o terceiro jogo na Copa de 2014: ligações diretas da zaga para o ataque eram as jogadas mais comuns pela ausência de Oscar e Paulinho. O ex-volante do Corinthians, aliás, se omitia o tempo todo, pegando na bola somente para dar passes a Thiago Silva e David Luiz. Como Camarões é um time limitado até para o Brasileirão, restava ao comandados de Felipão pressionar o adversário. O famoso "aperta que entrega" deu certo e Neymar achou o gol duas vezes e permitiu à Seleção abrir vantagem antes do intervalo. A avaliação geral, exceto pelo artilheiro do time, era ruim e a impressão que somente o craque do Barcelona poderia salvar o hexa aumentava ainda mais.

Eis que Felipão se rende ao óbvio e tira Paulinho. De repente, a velocidade reaparece e aquele time que goleou a Espanha por 3 x 0 retorna. Fernandinho traz o futebol veloz e consciente, chamando o jogo para frente. Fred, Hulk, Marcelo crescem e uma Seleção mais convincente surge.

Ainda é pouco e Deus sabe o que pode acontecer sem Neymar. Porém, Felipão sabe que precisa mexer no time. Não pode haver intocáveis ou solidariedade a quem está em má fase. Copa do Mundo, infelizmente, não permite isso. Paulinho precisa sair do time, assim como Daniel Alves. Fernandinho ou Hernandes e Maicon são as soluções para criar uma equipe sólida e capaz de encarar a segunda fase do Mundial.

Se Felipão quiser optar pela teimosia, Neymar terá que ser Maradona e Garrincha.
 
Foto: Bernat Armangue/AP