sábado, 28 de junho de 2014

Copa do Mundo 2014: Kaká cadê você?

Duas bolas na trave não causaram mais um trauma histórico para o futebol brasileiro.
Júlio César apagou as tristes lembranças do jogo contra a Holanda na Copa de 2010.
A classificação contra o Chile permite uma embriaguez de felicidade, o êxtase da vitória épica.

O sentimento seria completo se hoje fosse 13 de julho, o Mineirão fosse o Maracanã e Thiago Silva levantasse a taça de campeão do mundo, seja lá quem for entregá-la.

Não é.
Faltam três jogos.
Três jogos!
Meu Deus! Três jogos!

Seremos dependentes, acima de tudo, do agora incontestável Júlio César, da melhor dupla de zaga do mundo Thiago Silva e David Luiz, da segurança de Luiz Gustavo e da genialidade de Neymar. Esse é o time do Brasil e nada mais. Isso se reflete em campo: ligações diretas, bolas aéreas e dribles do craque do Barcelona para resolver quando o negócio aperta.

Exceto o volante cão de guarda Luiz Gustavo, percebe-se a ausência do meio de campo. O triste fato se confirma a cada jogo: não temos jogadores nesse setor fundamental, em especial na área de criação. Oscar não é esse cara, se omite quando mais se precisa dele, necessita ser coadjuvante e não estrela. Esqueça técnica: Hulk é força, explosão física e vontade. Só. No banco de reservas, Bernard e William são atletas de velocidade e não de pensar uma jogada. O vazio na parte central do campo aumenta a cada confronto.

Algo une todos esses jogadores: a inexperiência de uma Copa do Mundo. Se o meio de campo não chama o jogo, faz o famoso "para e pensa", a troca de passes fica rara, resta o jogo de chutão feito pelo time. O reflexo fica em um time sem confiança e nervoso pela constante sensação de que não está no controle da partida. A situação se potencializa ainda mais pela pressão de disputar o Mundial em casa.

Mesmo longe da fase de ouro, Kaká poderia ser o cara para ressuscitar a posse de bola no meio-campo brasileiro, caso estivesse no elenco. Com a experiência de duas Copas do Mundo no currículo, o futuro reforço do São Paulo seria uma alternativa para Felipão em segurar um pouco mais o jogo e trocar passes, ou seja, fazer existir esse setor. Seria o medalhão mais apto a fazer isso entre os atletas em atividade no Brasil - Ronaldinho Gaúcho, infelizmente, nunca se mostrou responsável para esse tipo de situação, e Alex está em fim de carreira. Se não fosse tão inconstante, Paulo Henrique Ganso cairia como a peça ideal para a atual Seleção Brasileira.

A força da camisa e jogar em casa permitem à Seleção Brasileira manter as boas chances de conquistar o hexacampeonato, mas, Felipão terá dificuldades para fazer jogar o meio-campo brasileiro com os jogadores que tem à disposição. Faltam opções experientes e com capacidade de racionar as necessidades do time.

Se antes brilhavam Didi, Rivelino e Rivaldo, o atual setor lembra aquele pouco inspirado da Copa de 1994 com Dunga, Mauro Silva, Mazinho e Zinho. Resta torcer para que Neymar repita Romário.

POSSE DE BOLA
Fim do Primeiro Tempo:Brasil 43% x 57% Chile
Fim do Jogo: Brasil 49% x 51% Chile

NÚMERO DE PASSES
Brasil: 393
Chile: 424

Foto: Reuters
Dados: Site da Fifa

PS: as vaias de parte dos torcedores brasileiros no momento em que os chilenos cantavam o hino à capela pode até ser desrespeitoso, mas, precisa ser analisada dentro do contexto da partida. Não se viu isso em outros jogos Brasil afora, inclusive das partidas da equipe do técnico Sampaoli. A situação no Mineirão era diferente, afinal de contas, o hino à capela se tornou símbolo do time brasileiro. Portanto, a vaia não era para a canção do Chile e sim um marco da torcida brasileira sobre quem gritaria mais no Mineirão. Ocorreria o mesmo se a representação desse momento fosse na França, Inglaterra, EUA, África do Sul, Argentina. Não é uma atitude bonita, óbvio. Mas, repito: precisa ser analisada dentro do contexto da partida. Bem diferente do que houve, por exemplo, nos xingamentos à Dilma Rousseff na abertura do Mundial na Arena Corinthians.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Copa do Mundo 2014: Fernandinho salva Neymar

O primeiro tempo contra Camarões deixou a sensação de que Neymar teria de ser para a seleção brasileira o que foram Garrincha de 1962, Maradona de 1986 e Romário de 1994 para seus respectivos times: o homem da decisão capaz de encontrar soluções para as partidas mais difíceis. Para conseguir o hexacampeonato da Copa do Mundo, restava a Felipão&Cia apostar no craque surgido na Vila Belmiro.

A entrada de Fernandinho, entretanto, alterou o cenário. Tudo porque a opção pelo volante do Manchester City no lugar de Paulinho abre a possibilidade de Felipão mudar os titulares, não sendo mais possível seguir com quem lhe deu o título da Copa das Confederações. Sim, há chances de termos um time.

O Brasil começou mal o terceiro jogo na Copa de 2014: ligações diretas da zaga para o ataque eram as jogadas mais comuns pela ausência de Oscar e Paulinho. O ex-volante do Corinthians, aliás, se omitia o tempo todo, pegando na bola somente para dar passes a Thiago Silva e David Luiz. Como Camarões é um time limitado até para o Brasileirão, restava ao comandados de Felipão pressionar o adversário. O famoso "aperta que entrega" deu certo e Neymar achou o gol duas vezes e permitiu à Seleção abrir vantagem antes do intervalo. A avaliação geral, exceto pelo artilheiro do time, era ruim e a impressão que somente o craque do Barcelona poderia salvar o hexa aumentava ainda mais.

Eis que Felipão se rende ao óbvio e tira Paulinho. De repente, a velocidade reaparece e aquele time que goleou a Espanha por 3 x 0 retorna. Fernandinho traz o futebol veloz e consciente, chamando o jogo para frente. Fred, Hulk, Marcelo crescem e uma Seleção mais convincente surge.

Ainda é pouco e Deus sabe o que pode acontecer sem Neymar. Porém, Felipão sabe que precisa mexer no time. Não pode haver intocáveis ou solidariedade a quem está em má fase. Copa do Mundo, infelizmente, não permite isso. Paulinho precisa sair do time, assim como Daniel Alves. Fernandinho ou Hernandes e Maicon são as soluções para criar uma equipe sólida e capaz de encarar a segunda fase do Mundial.

Se Felipão quiser optar pela teimosia, Neymar terá que ser Maradona e Garrincha.
 
Foto: Bernat Armangue/AP

domingo, 22 de junho de 2014

Copa do Mundo 2014: Espanha e o desafio do adeus

Como dispensar aquela pessoa que foi tão importante para a sua vida ou trabalho?
Qual a melhor forma de dizer adeus sem machucar ou ferir sentimentos?

O mundo será mais fácil no dia em que for criada essa fórmula.

A Espanha sofreu na Copa do Mundo de 2014 esse mal enfrentado por tantos outros times vencedores. O futebol brasileiro, por exemplo, trouxe casos recentes. 

Campeão da Libertadores e Mundial, o Corinthians segurou importantes jogadores dessas conquistas como Emerson Sheik, Chicão e Danilo, todos rendendo abaixo do esperado. Acabou naufragando nas competições seguintes. Já o Atlético-MG venceu de forma heroica o título continental e naufragou no Mundial contra o Raja Casablanca. Na Libertadores deste ano, o Galo acabou eliminado nas oitavas de final para o xará da Colômbia. Nomes como Marcos Rocha e Ronaldinho Gaúcho continuam prestigiados ainda que longe da qualidade mostrada anteriormente.

A própria Seleção Brasileira já enfrentou isso três vezes em Copas do Mundo. Em 1966, Vicente Feola convocou medalhões em final de carreira como Garrincha (decisivo em 62) e Bellini (o capitão de 58). Resultado: queda na primeira fase. No Mundial de 1986, Telê Santana prestigiou nomes importantes do time de 82, o que fez convocar Zico baleado e Falcão em má fase no São Paulo. Eliminação nas quartas-de-final para a França de Platini. A última vez aconteceu com Parreira na Copa de 2006 ao não barrar Ronaldo Fenômeno, craque do penta completamente fora de forma.

Vicente Del Bosque enfrentou o mesmo problema dessa vez. Ídolo do Real Madrid e capitão do primeiro título mundial espanhol, Casillas está em má fase desde que José Mourinho o colocou no banco de reservas do time merengue. Na final da última Champions League, o goleiro já havia falhado feio no gol do Atlético de Madrid e hesitado em outros lances. Apesar de graves e fora do comum, os erros na Copa não chegaram a ser novidade. Outro erro foi manter Piqué no time. O marido de Shakira caiu de nível como todo o time do Barcelona na temporada 2013-2014. Deixar o ótimo Javi Martínez no banco de reservas para privilegiar o titular do Mundial passado se mostrou outro equívoco do treinador.

O erro maior de Del Bosque acabou sendo em Xavi. Volante que redefiniu o futebol moderno, o craque do Barcelona não era mais o mesmo. O tempo castigou a força física dele, algo essencial para posição em um jogo tão corrido como o atual. Se estivéssemos 30, 40 anos atrás, ele poderia atuar facilmente no mesmo nível. Infelizmente, hoje em dia com a velocidade das partidas, não é mais possível. 

Xavi se tornou presa fácil para os adversários, suas jogadas eram facilmente marcadas e não tinha mais fôlego para aguentar em alto nível 90 minutos. O técnico espanhol sabia bem disso, mas como tirar o maestro de campo? E o que fazer com a esperança da jogada decisiva? E o lampejo de um craque não pode vir a qualquer momento? Del Bosque se agarrou a isso, não colocou o habilidoso Koke e a Espanha caiu.

A geração de Xavi, Casillas, Iniesta, Piqué, Sergio Ramos, David Villa, Xabi Alonso, Puyol, Del Bosque e tantos outros merecem a adoração dos fãs de futebol. Se vemos uma Copa do Mundo com tantos gols e jogos emocionantes, deve-se muito a estes caras, pois, mostraram que o futebol de troca de passes e ofensivo pode ser uma alternativa bem melhor que os contra-ataques e bolas paradas.

Que venha a geração de Thiago Alcântara, Pedro, Cazorla, Koke, De Gea...

Copa do Mundo 2014: Messi e Maradona - A Necessidade de Mudança da Mentalidade da Argentina


Reprisar os jogos mais importantes da Copa do Mundo antigas são uma das principais atrações dos canais esportivos antes de qualquer mundial. A Fox Sports escolheu a final de 1986 entre Argentina e Alemanha. Minha grande expectativa era conferir uma partida inteira do que foi Maradona naquele torneio. Já sabia, porém, que aquela decisão não havia sido o grande jogo do craque do Napoli: a forte marcação dos europeus e as faltas sofridas dificultavam a capacidade de carregar a bola e driblar os adversários.

Mesmo assim, Maradona tinha seus lapsos de genialidade e dava arrancadas espetaculares, sendo parado na base da pancada. As corridas do craque traziam muito mais que apenas um estilo de jogo; havia raiva, fome de gol, impulsividade, deixar os zagueiros desmoralizados no chão. Don Diego era a personificação do argentino dentro de campo: raçudo, passional, dramático, intenso e individualista.

Não à toa que a Argentina parece estranhar Lionel Messi. A esperança dos hermanos para o título da Copa de 2014 pode trazer características de Maradona (em especial, a velocidade da arrancada), porém, há uma eterna sensação de que o craque do Barcelona age muito mais com inteligência do que intensidade. 

Messi é calculista, frio, introvertido, cerebral. Pode até tirar algo da cartola como aconteceu nos gols contra a Bósnia e Irã, porém, são momentos nascidos mais com a capacidade de observar o que ocorre em campo do que simplesmente pelo impulso. Necessita, acima de tudo, de um time capaz de criar tabelas, dribles e jogadas em profundidade..

Se Maradona conseguia criar quase tudo sozinho, Messi pode até ser a estrela, porém, precisa do coletivo. Alejandro Sabella ainda não conseguiu definir um estilo para a Argentina, o que faz nomes como Gago, Higuaín e Aguero ficarem perdidos dentro de campo. Sem essa unidade, jogos tranquilos acabam se tornam mais difíceis, dependendo da genialidade do camisa 10 para resolver.

Caso queira o tricampeonato, a Argentina precisa se adaptar ao craque atual. Isso significa mudar a mentalidade do individual para o coletivo. Ou então há sempre o período Pré-Copa para assistir a final de 1986.